quarta-feira, 31 de julho de 2013

" O meu olhar é nítido como um girassol.
  Tenho o costume de andar pelas estradas
  Olhando para a direita e para a esquerda,
  E de vez em quando olhando para trás...
  E o que vejo a cada momento
  É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
  E eu sei dar por isso muito bem...
  Sei ter o pasmo essencial
  Que tem uma criança se, ao nascer,
  Reparasse que nascera deveras...
  Sinto-me nascido a cada momento
  Para a eterna novidade do Mundo...

  Creio no mundo como num malmequer,
  Porque o vejo. Mas não penso nele
  Porque pensar é não compreender...
  O Mundo não se fez para pensarmos nele
  (Pensar é estar doente dos olhos)
  Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
  Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...

  Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
  Mas porque a amo, e amo-a por isso
  Porque quem ama nunca sabe o que ama
  Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
  Amar é a eterna inocência,
  E a única inocência não pensar... "

Fernando Pessoa / Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914.

:)

Fé e tranquilidade. :)
Abçs

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