Bergson desenvolve um argumento sobre o tempo que acho muito interessante, ele fala sobre o tempo físico e o tempo qualitativo. O primeiro refere-se aos meandros da dinâmica cronológica. O segundo refere-se ao tempo interior e a sua relação com a experiência do estar no mundo.
Quinta-feira fui ao Rio.
Durante a visita à exposição dos impressionistas muitos insights me ocorreram, lamentei serem poucas as aulas deste quarto bimestre, muitas coisas não poderia repassar aos meus alunos e acho triste ter algo bacana que não pode ser compartilhado.
Ver a exposição me fez experenciar intensamente a experiência fenomenológica de Merleau-Ponty, vi minha tela preferida do Monet, as bailarinas do Degas, Van Gogh, mas o que mais me emocionou, me levando a uma epifania foi Courbet.
Ramo de macieira em flor.
Tela que ele produziu durante a época que ficou preso, em função da sua participação na Comuna, nesta situação não podia trabalhar seus temas costumeiros, então dedicou-se aos estudos de natureza- morta, a partir das coisas que seus familiares levavam em visitas.
Há vários relatos sobre essa obra, mas mesmo sabendo o contexto, quando estava em frente a tela foi como se tivesse descoberto Courbet verdadeiramente, vislumbrando o que acontecia no seu coração, sempre se diz que para identificar um artista verdadeiro basta perceber a necessidade que ele tem de produzir arte, em qualquer momento, em qualquer circunstância.
Naquele momento alcancei uma apreensão muito sensível de algo que sempre defendo, a arte enquanto produção cultural, enquanto elemento de humanização.
Em certo momento sentei e me ocorreu que precisava ser mais generosa com os meus impulsos criativos, dar aula me ajuda a bem transbordar as coisas que tenho em mim, a galeria e o mestrado me ajudam a organizar pensamentos e idéias, entendi que é justo também dar lugar ao fazer artístico.
Bruno me levou ao Museu Nacional de Belas Artes, pensei na dificuldade de se apreender, de se entender plenamente as coisas no momento em que elas ocorrem, é a delicadeza e a complexidade do tempo qualitativo de Bergson, lembrei da primeira vez que vi o mar, no meu aniversário de vinte e quatro anos, era algo que queria muito e que quando aconteceu parecia que sempre tinha estado em frente a ele.
Levei minha máquina fotográfica e quase não fiz fotos, meus alunos do terceiro ano do ensino médio estão trabalhando visualmente o livro Cidades Invisíveis e pretendia levar um ensaio meu para eles, que não conhecem o Rio. Mas, considerando a relação opacidade e transparência, logo percebi que reter em imagens o que seria o dia, se configurava como uma tentativa vã que banalizaria a sua significância, preferi deixar à memória a função de eternizar e relatar.
Gosto do Rio de Janeiro. :)
Saravás. :)
Abçs